Não veio mais

grazielles
1 min readAug 18, 2020

Costumo escrever sobre partidas por motivos óbvios: quando o coração está partido, o sentimento escorre em palavras. É meio inevitável, ainda que dolorido. Mas há algum tempo queria dizer de chegadas.

Sabe, chegar é muito mais gostoso. Só de caber dentro de acon(chegar), me parece muito mais promissor. Já não sabia como funcionava isso de chegadas e às vezes tenho a tendência a adiá-las porque elas me assustam um pouco.

Aí, num dia qualquer, num aplicativo qualquer, um match qualquer, um novo seguidor qualquer resolveu não ser mais qualquer. Aos pouquinhos, me ofereceu um cardápio variado de mensagens no café da manhã e foi colorindo minha quarentena com suas meias divertidas e uma trilha sonora recheada de olhares que, juro pelas Deusas, conseguiam atravessar a câmera.

Seus olhos grandes mereciam versos alegres e cada contato me preenchia com frases vestidas de poesia que eu anotava aqui e ali na esperança de costurá-las mais adiante. A esse ponto, ainda que eu não tivesse habilidades de artesã, já havia bordado um afeto inteiro com os sorrisos perdidos nas boas memórias (que eram poucas, mas suficientes para suspiro).

Esqueci qualquer medo porque fui desarmada por sua risada sem regras, áudios entre correrias e uma playlist de forró compartilhada para as tais chegadas. Mas não chegou. Não dessa vez. Num dia, que não era qualquer, mas uma terça-feira nublada com previsão de queda intensa de temperatura, não veio mais. Sem chegada e nem partida. Só uma saudade grande que não devia.

Grazielle Santos Silva

--

--

grazielles

“Eu sou uma e sou várias” e por aqui escrevo com alma e sem filtro.